terça-feira, 9 de março de 2010

Amigos

Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade.
Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho
questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara
lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero
também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer
junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios,
daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam
para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem
chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para
que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca
tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os
loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei
de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"

Fernando Pessoa

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