terça-feira, 15 de novembro de 2011
Em branco
Na buasca das palavras certas
da eloquência
o tempo passa
a folha em branco diz:
risque, rabisque, se arrisque...
faça
me rasgue...
dobre, recorte
me faça
origamis, barco, avião...
me amace
nada de tinta
nada de pena
use as mãos...
estou em branco
cansei
me deixe em branco
QdG
domingo, 13 de novembro de 2011
Rima
De rima a rima
ensino ao silêncio
o verbo que combina
silêncio, silêncio;
ao desespero ensino:
calma, rima, que o amor
responde em silêncio
ou com rima.
JL
ensino ao silêncio
o verbo que combina
silêncio, silêncio;
ao desespero ensino:
calma, rima, que o amor
responde em silêncio
ou com rima.
JL
Desejos
Do beijo que é só nosso. O abraço, o afago, o carinho se perderão em nossos encontros. A atração, o desejo e o prazer do sexo transformar-se-ão em nossa rotina. A carne virará corpo e o corpo alma, e tudo que era antes uma linha tênue não terá limite, tudo será conveniente e consentido, não haverá desculpas, sono oportuno, cansaço do mundo, nenhuma dissimulação covarde.
Um fio de luz do poente entrará em nosso calabouço subterrâneo, onde as sombras do que fomos estão mescladas com as sombras do que não somos ou do que desejamos ser. A luz iluminará nosso desejo de ver (nos ver).
Reconheceremos as igualdades das diferenças como nos ponteiros do relógio: duas hastes que só funcionam girando no mesmo sentido, solidariamente.
Acharemos nosso viço, nossa bossa, nosso estilo, nossa ginga, nosso timming e nosso time, ganharemos a posse de cada um. Éramos invisíveis, viramos sensíveis. Éramos atores, viramos personagens. Éramos alegoria viramos enredo. Éramos só uma roleta russa, nos tornamos um desafio. Éramos pedreiros do passado, nos tornamos arquitetos do destino. Agora craques, viciados no jogo da paixão pelo outro.
Achamos o pátrio poder de querer amar e ter amor.
JackLigeiro
Trânsito
Sinal verde
o fluxo nos impulsiona
à travessia
Há travessias
Um átimo de vacilo
Sinal vermelho
JL
o fluxo nos impulsiona
à travessia
Há travessias
Um átimo de vacilo
Sinal vermelho
JL
sábado, 12 de novembro de 2011
Colo
Um colo quente
calor ardente
febre de gente, gente mesmo...
um colo quente pra te receber na dor, no amor, na dor de amor - essa que arde la dentro - esperando você completar meu colo e nele (dentro) derramar o néctar que aliviará minha cede - essa de amar- esperando você com o seu preenchê-lo todo... e eu toda colo para seu desfrute e gozo.
JL
Nenúfares
Nenúfares inspiraram Monet
Sardas inspiram
Poemas são simples
Amor poderia ser
Se não houvesse
Sabotagem
Sem rima...simples assim
Marca o momento
a madrugada
então somos...
Buquê de rosas dedicado a mim
Coroa dourada de gira sol
enquanto no mundo eu giro
viva
antes que seja o fim
JL
"você tem razão, precisa é de releitura, ler nas entrelinhas, nos entre espaços, no silêncio, nas pausas, só que às vezes ando meio sem saco pra isso, às vezes ando só a fim de surfar no fluxo narrativo, tipo pegar onda, despropositadamente, tipo ontem, onda piegas, ser direto, dizer o que o estômago manda, aforismos ácidos e bem humorados, essas coisas."
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira Gullar
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
As Verdadeiras Necessidades não Têm Gostos
Nenhum conselho me parece mais útil para te dar do que este (e que nunca é demais repetir!): limita sempre tudo aos desejos naturais que tu podes satisfazer com pouca ou nenhuma despesa, evitando, contudo, confundir vícios com desejos. Porventura te interessa saber em que tipo de mesa, em que baixela de prata te é servida a refeição, ou se os escravos te servem com bom ritmo e solicitude? A natureza só necessita de uma coisa: a comida. (...) A fome dispensa pretensões, apenas reclama ser saciada, sem cuidar grandemente com quê. O triste prazer da gula vive atormentado na ânsia de continuar com vontade de comer mesmo quando saciado, de buscar o modo como atulhar, e não apenas encher o estômago, de achar maneira de excitar a sede extinta logo à primeira golada! Tem, por isso toda a razão Horácio quando diz que a sede não se interessa pela espécie de copo ou pela elegância da mão que o serve.
Séneca, in 'Cartas a Lucílio'
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