quinta-feira, 1 de abril de 2010

FALTA DE DIÁLOGO - Eu só posso amar o outro no que ele é diferente de mim, porque no que ele é igual a mim não é a ele que estou amando, mas a MIM.

Se fôssemos fazer uma lista de coisas que tornam as pessoas felizes, não tenho a menor dúvida que ela deveria começar com os relacionamentos.
Mais que sucesso, beleza, dinheiro, fama, a nossa vinculação íntima com as outras pessoas determinam nosso grau de alegria na vida. A maioria de nossas necessidades emocionais está diretamente ligada aos nossos relacionamentos: afeto, inclusão, companhia, amor, carícias, aprovação.
Entre os vários relacionamentos, o afetivo-sexual ocupa uma posição de destaque dada a sua profundidade e prazerosidade.
Se a relação amorosa é bem sucedida, a vida é boa, mas se ela fracassa leva junto a alegria de viver. E o que faz um relacionamento ter sucesso?
São inúmeros fatores e sempre conversaremos aqui sobre eles. Há, porém, um deles que se sobressai: O DIÁLOGO.
O que distingue o homem do animal, é que o homem tem consciência, capacidade reflexiva, portanto e FALA. Qualquer empreendimento humano em conjunto requer necessariamente o diálogo para viabilizá-lo. Uma equipe, um grupo, uma família, um CASAL, só existem à partir da capacidade de trocarem idéias, sentimentos e ações.
O diálogo como mecanismo de integração e interação não é uma concessão que faço ao outro (como muitos homens pensam!), mas é o combustível necessário para que exista CASAMENTO.
Cada pessoa é uma individualidade. Ela é, portanto, única. Cada pessoa tem uma história diferente, um passado diferente, um jeito próprio de ver o mundo, uma formação, gostos diferentes, capacidade intelectual e emocional diferentes. O casamento é uma tentativa de juntar estas diferenças num projeto de construção do amor e do mundo.
O que impulsiona e realiza o acasalamento são exatamente AS DIFERENÇAS: Eu só posso amar o outro no que ele é diferente de mim, porque no que ele é igual a mim não é a ele que estou amando, mas a MIM. E na construção da relação amorosa, a grande dificuldade reside na diferença de como cada um percebe o mundo.
Daí a dificuldade e a necessidade do diálogo. Para haver uma relação “dialógica” é fundamental o respeito à individualidade do outro e, portanto, à maneira diferente de o outro perceber o mundo.
O objetivo do diálogo não é “convencer” o outro e nem obrigá-lo a ver o mundo como eu vejo, mas pelo contrário, o diálogo é a oportunidade de que as oposições apareçam, as divergências fiquem claras e as pessoas encontrem um jeito de conviverem e continuarem construtivas, apesar de...
O diálogo é justamente o consentimento do outro como diverso de mim e acaba com a terrível idéia de unidade a qualquer preço e instaura a unidade como capacidade de, mesmo diferentes, termos objetivos e interesses comuns. Assim, o diálogo assim é fator de cooperação e não de competição entre o casal. O diálogo não é para provar ao outro que ele está errado, mas para eu entender o ponto de vista do outro e inseri-lo nas minhas reflexões.
A capacidade de conviver com idéias diferentes das minhas, o respeito à autonomia reflexiva do outro, a humildade de saber que eu não detenho toda verdade são os ingredientes necessários para a conversa do casal.
O jogo da razão, no qual eu quero que minha idéia prevaleça sobre a do outro não é o diálogo, mas dominação. Este é o motivo de tanta resistência ao diálogo, aparente em muitos casais. Sem trabalharmos o nosso autoritarismo, de querermos impor ao outro nossa percepção da realidade, não seremos capazes de dialogar.
Se em um casal, um deseja algo e o outro deseja o contrário, ou seja, se os desejos eventualmente são diferentes, só há uma saída: a negociação.O diálogo é este instrumento e palco para o grande desafio: Como vamos continuar a construção dos nossos objetivos comuns, apesar de pensarmos, as vezes diferente e vermos a realidade de maneira diferente?
Amar é dialogar.Um casal só se constrói quando tem a competência emocional de poder dizer: “Não concordo com você nisto ou naquilo, mas continuo amar você de todo o meu coração”.

Antônio Roberto Soares

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