sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Vergonha

Confesso: estou voltando a ter vergonha (medo) " pensando no que as pessoas podiam (podem) estar pensando de mim…"

Vergonha

Moro em um desses lugares raros em que as crianças ainda podem brincar na rua. Chegamos da escola e 2 coleguinhas vieram brincar aqui em casa. Deu a hora da tarefa e pedi pra que fossem embora. Porque pra mãe que é mãe, hora é hora! E não é porque somos muito organizadas e perfeitinhas não, pelo menos eu não sou, é só porque se não fizermos isso, ficamos loucas. Mas disse também que quando acabassem, poderiam voltar a brincar juntos.
O mais velho dos meus filhos, de oito anos, terminou e foi chamar o amiguinho. Voltou pra casa uns minutos depois, sozinho. Estranhei e perguntei o que houve.
- Uai filho, não chamou seu colega, não?
- Não.
- Por quê?
- Ah, nada não… – E ligou a TV.
Eu desliguei e insisti:
- Me fala filho, o que foi que aconteceu?
- Ahhh… É que eu fiquei com vergonha…
De nada adiantaria eu dizer pra que não tivesse vergonha, já que é um fato que já está, ou, também, que a vergonha não valia a pena, posto que não há como medir o quanto vale o que está no coração… Concordei com a cabeça e propus outra coisa:
- Vamos fazer o seguinte… Eu vou até lá com você e você chama seu amigo.
- Chama ele pra mim? Eu tenho MUITA vergonha…
Não podia fazer isso… Não posso fazer por ele que seus problemas desapareçam, por mais que queira protegê-lo, a vida não acontece assim…
- Não, não vou chamar não, mas vou com você até ali e você mesmo chama. Qualquer coisa que aconteça, eu estarei bem perto.
Ele concordou e fomos. Fui até onde ele podia me ver. E, antes de gritar o coleguinha por três vezes ininterruptas, ele respirou bem fundo, como que pra tomar coragem. O amigo desceu trotando as escadas do prédio e, já na explosão do encontro animado, me afastei, sem dizer nada.
Entrei em casa olhando de longe pra todas as oportunidades que perdi, pras vezes que não brinquei, porque não tive coragem de chamar as amiguinhas… Pras amizades que não fiz, pensando no que as pessoas podiam estar pensando de mim… Nas festas que não fui, nos vestidos lindos que não comprei porque presumi que o preço, de entrar na loja, era alto demais pra mim.
Nos amores que não beijei por não haver me declarado, no carinho que o coração não fez por acreditar estar invadindo, nos abraços que não me permiti dar. No quanto me desmereci, no quanto me escondi. Na riqueza que a vergonha me toma, todos os dias…
Só pelo medo de me entregar… Pela fragilidade de me expor de verdade, sem desviar nem um milímetro de alma. De escancarar os segredos de mim… No tanto que perdi, por pensar que não valia a pena me mostrar, me enfrentar, me desamarrar dos nós encrostados na pele do meu ser… Na doçura que ficou pra trás… Na felicidade do encontro, de verdade…Na força que eu achava que tinha, que me protegia, mas que me impedia era de viver. Me perguntei da força… Se ela não está na coragem de se revelar fraco de tempos em tempos, de se entregar humano…
Deixei que brincassem até a hora de dormir. E, antes de colocá-lo na cama, logo depois do beijo de boa noite, perguntei, afirmando:
- Você se divertiu hoje, não foi, filho?
- Muito mamãe, muito…
- Então valeu a pena enfrentar a vergonha, não foi?
Ele me olhou se dando conta de si. Com os olhinhos orgulhosos de haver sido capaz de enfrentar a si mesmo pra ser feliz. Me apertou em seus bracinhos, compartindo a sua conquista, sorriu, se virou e dormiu.
E meu coração se encheu…
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