sábado, 6 de outubro de 2012

O CONTO DA NOITE ETERNA


Como outra qualquer, naquela noite, sentei-me diante do computador. Naquele instante, comecei a escrever sem muitas pretensões. Sendo sincera, desconhecia até o que eu iria escrever, mas as palavras foram saindo com letras que eu não enxergava, e mesmo não enxergando, já tinha noção do que eu pensava, ainda que sem saber o que escrevia, ou vice-versa. Confusa, eu sei! Mas minha mente também se encontrava assim. E da mesma forma que Deus pintou o mundo com seu "perfeito pincel", eu ia pintando o meu. Em pouco tempo, pude sentir uma estranha força que escorria por meus dedos.
Eu não sei o que ocorria comigo, mas era sensivelmente real. As nuvens iniciais que se
formavam no teto do quarto, em questões de minutos já me cercavam, e tornavam-se fumaça. O chão que eu podia sentir com os dedos dos pés eram manchas instáveis, abertas. Mas eu ainda enxergava a noite pela abertura da janela - e ela, era natural. Ouço batidas na porta, leves e suaves, como a maciez de uma folha que é levada pelo vento. Fui atender. Um belo homem esperava-me. Era de uma beleza incomum, e não pude deixar de convidá-lo a entrar. Seguindo meu pedido, ele deu alguns passos, e estando ao meu lado, sem nada dizer, deixou que o lençol no qual estava envolto caísse, revelando-me o seu corpo por inteiro. Deitamos em minha cama, e ali tive alguns dos melhores e mais intensos momentos de minha vida. Mas como a fumaça que surgiu em meu quarto, rapidamente ele desapareceu. No mesmo segundo, as linhas do chão se desenvolveram e se tornaram as linhas de uma estrada desconhecida. A noite continuava, mas naquele asfalto, a poeira havia se dissipado. O som e o cheiro do mar eram próximos. Passei a caminhar tentando alcançar o oceano, enquanto estranhamente ouvia os sons do meu teclado. Estaria eu escrevendo minha própria história?
 - Pensei ! Mas sabia que era impossível ...  - então prossegui. Na distância, brilhando em luz de si, avistei um homem em vestis brancas, cabelos balançando ao sabor do vento - o mesmo homem que estivera em meu quarto. Nos aproximamos. Chegando perto, Sua luz reverbera em mim, e o sinto como se fossemos um, ele foi completamente dócil, e pude sentir isso através de suas palavras:
_ Está noite te será eterna. Seus desejos também serão eternos. Entre nesse barco comigo, disse ele. O barco era simples, mas ao entrar, pude sentir que flutuava em meio ao nada. Os mares, os ventos e os sonhos, os desejos nos levarão. E assim o barco começou a mover-se. Ainda eu podia ouvir as batidas das tecladas feitas por minhas mãos.
À medida que o barco avançava, eu sentia mais e mais a presença do vazio que me cercava. Devo admitir que fiquei assustada, mas a calmaria das águas que se refletiam no homem, me tranquilizou. Num certo instante, eu perguntei, quem é você? 
Ele disse: _Olhe, o quarto! Uma estranha sensação percorreu minha alma.
Estaria eu de volta? Encontrei meu caminho? O sonho foi real? Os desejos se realizaram? 
De repente, notei que o barco e o homem não mais existiam. Haviam se tornado fumaça que foram tragadas pelo vento, pela história e pela noite. Com o passar dos dias, os sons das teclas foram desaparecendo, e só restávamos eu, a noite, o quarto, a fumaça e o teclado. Os meses foram passando e num perfeito encontro, obtive a companhia que desejei em meus anos de vida:_ a fantasia. Anos passaram e sendo sempre noite, com tanta lentidão do tempo, nada  me entristecia, pois eram enfim os meus desejos. - Isto é delírio?
Mas a mim, não cabe decidir nada disso. Prefiro viver todas as vidas do mundo dentro de meus sonhos, cercada pelos meus reais sentimentos e desejos que um segundo no mundo real. Mas estando contigo, noite eterna terá sido. 
QdG

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