quinta-feira, 25 de outubro de 2012

RIGIDEZ NAS RELAÇÕES

Do ponto de vista de vida das relações e do comportamento, podemos nos identificar-nos com um dos dois elementos da natureza: a água ou o diamante. A água é flexível, fluida, elástica, altamente adaptável ao ambiente e, sendo inodora, insípida e incolor, recebe qualquer cor, qualquer gosto e qualquer cheiro. Interage com o meio, se liga imediatamente ao contato com outra água e é essencial à vida. O diamante é rígido, duro, corta todos os outros elementos e não é cortado por nenhum, não se liga a outro diamante, é inflexível e não suporta nenhuma mancha, é do tipo “quebra, mas não enverga”, é ligado à imagem e não é essencial à vida. 
Cerca de 70% do nosso corpo é água. Talvez para nos ensinar que a principal virtude no relacionamento entre as pessoas é à flexibilidade.Qualquer rigidez no pensar, no agir, no ver o mundo é uma espécie de teimosia.O teimoso tem um apego excessivo às próprias opiniões, aos próprios gostos, nunca admitindo a sua imperfeição humana.A convivência com pessoas que sempre querem ter razão, que sempre estão ditando regras para os outros, sempre ensinando, traz um grau excessivo de insatisfação e desgaste. A relação dialógica (diálogo) supõe obviamente pessoas com pontos de vista diferentes, procurando a verdade e não a supremacia sobre o outro. 
Considerar a relatividade dos pensamentos, incluindo os nossos, nos faz considerar as diferenças entre as pessoas. A idéia autoritária de que todos os membros de uma família, de uma equipe, de um casal devem pensar igual nos leva a entender como inimigo as pessoas que discordam de nós. A rigidez nos leva a desrespeitar a individualidade de cada um querendo que todos vejam o mundo da nossa forma e tenha os mesmos valores que nós. Daí nasce o desejo de controlar e dominar os pensamentos, sentimentos e ações dos outros. Cada um de nós existe a partir da diferença e da expressão específica dos nossos limites. Isso constitui a nossa autonomia e qualquer forma de querer reduzir alguém ao nosso modo de pensar é violência.
Respeitando nossa individualidade, nossa unicidade, aprendemos a respeitar a singularidade daqueles com quem nos relacionamos. Cada pessoa tem seu jeito, seu caminho, seu ritmo, seus gostos, sua forma específica de ver o mundo. E a relação amorosa começa quando aceitamos o OUTRO existindo diferente de nós. O amor é a convivência harmoniosa dos diferentes. Eu só posso amar no meu filho, na minha mulher, no meu marido, no amigo aquilo em que eles são diferentes de mim. No que eles são iguais a mim eu estou amando a mim, não a eles.
O teimoso, o fanático, o rígido é aquele que sempre tem certeza e se estrutura nos excessos. Segundo Adler os excessos sejam de que natureza forem, são um disfarce para as tendências inconscientes opostas. Assim a rigidez nas atitudes significa, constantemente o contrário do que a pessoa diz. Pessoas muito puritanas e moralistas escondem desejos sexuais reprimidos. Excessos de bondade escondem agressividades mal trabalhadas.
Excessos de dominação escondem fragilidade interna e sentimentos de inferioridade. Os erros são inevitáveis na trajetória humana. É da natureza do homem errar e é através dos erros que crescemos, avançamos e criamos.Esta ojeriza pelos erros, principalmente dos outros nos coloca em estado permanente de crítica e julgamento, transformando nossos relacionamentos em campos de batalha e de hostilidade.
Aceitar com suavidade os próprios erros, os próprios limites, a própria continguência humana é o principal caminho para nos flexibilizarmos diante do outro. Qualquer relação amorosa só será feliz se perdermos um pouco nossa rigidez. Quanto mais vivos, mais flexíveis. Quanto mais mortos, mais rígidos. Considerar a multiplicidade do mundo, a adaptabilidade da natureza, a paciência com as diferenças nos dará uma vida mais harmoniosa e menos sofrimento.Os rios alcançam o mar porque eles vão contornando os obstáculos, na sua sábia flexibilidade.

Antônio Roberto

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