quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Alguém pra ninguém

Pensei em ser aquela amiga de infância que ajudava a juntar os brinquedos e colocar na caixa. Com o tempo as peças do quebra-cabeça foram sumindo, as bonecas perderam os braços, as roupas, os carrinhos as rodas e a caixa de brinquedo se desfez na enchente de 79.
Então pensei em ser a irmã do meio, a mais velha por necessidade e cuidei da casa, das roupas, das samambaias, da comida, do padrasto, dos irmãos. E os irmãos se foram, casados, emigraram, um morreu (igual aquela novela eramos seis). Daí pensei em ser namorada, fui mãe, antes mesmo de saber se seria esposa, sem me dar conta, de um, depois outro, meninos...Estudante, esposa, mãe, menos namorada, tampouco amante. Logo pensei: serei profissional formada, pós graduada, respeitada, acabei virando divorciada, nem fui namorada, tampouco amante. Sozinha, mãe, estudante, trabalhadora, guerreira, filha mais velha, já bem mais velha, órfã de pai, de padrasto, de irmãos, de esposo, e nem fui namorada, nem tampouco amante. Fui logo ser só mãe. Agora bem mais velha, mãe, guerreira, solitária tentando ser ...ser namorada, ser amante, que importa a  idade? Talvez eu deva mesmo tentar ser a melhor amiga, companheira, cúmplice, ajudadora, motivadora, cuidadora de alguém que queria ser alguém na vida de alguém e que precise de alguém, e não encontro ninguém...me enamoro do meu desejo vão, eterna namorada, amante de ninguém.
JL

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