domingo, 23 de setembro de 2012

De repente


E se de repente você descobrisse que sua obsessão de que desejo deve ser realizado em seu tempo, cada palavra em seu estilo, pode não ser pelo mérito de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, por todo um sistema de simulação inventado para ocultar a desordem natural do seu ser? Seria sua disciplina por virtude, ou uma reação contra sua negligência? Não seria generoso para encobrir a mesquinhez? Não se faria passar por prudente quando na verdade é desconfiado e sempre pensa o pior (dos outros)? Não seria conciliador para não sucumbir as cóleras reprimidas? Não seria pontual para que ninguém saiba como pouco se importa com o tempo alheio? Não se passa por simples para ocultar o quanto abomina o simplório? Será que não considera, enfim, que o amor não é um estado da alma, que merece comprometimento e cuidado, e sim um signo do zodíaco ou um jogo no qual blefar é seguro e nunca se deve entregar o ouro? Qual seria sua reação se todas estas hipóteses caíssem como verdades absolutas sobre seu colo e não mais tivesse tempo de admitir sua fragilidade, de realizar seus desejos? Manteria o curso do barco, mesmo com o remo quebrado, os ventos contrário e a maré agitada? Ou compartilharia uma vida, sem sombras, com alguém que realmente lhe valoriza? Seria capaz de reconhecer no outro o dom de lhe amar como realmente és? E assim amar também?... 

JL

Um comentário: